ESSAYS

A variety of topics related to my artistic and human life experience: lived stories, writings about my vision in dance, fantasies and realities portrayed by my senses. Texts written in Portuguese, English and translations to German.

INDEX

 

1. Ideias de Significado em Dança - Prelúdio

2. Ideias de Significado em Dança - O Balé

3. Ideias de Significado em Dança - A Dança Contemporânea

4. Zeitgenössischer Tanz

5. Ayahuasca Ceremony

6. Maya, The Illusion of the Self

7. Devaneios Primaveris

 


Esta é uma série de 3 Textos que escrevi em 2014 durante um curso de Filosofia da Arte na Universidade de Brasília.

1. IDEIAS DE SIGNIFICADO EM DANÇA – PRELÚDIO

 

Um pedaço de corpo poderia permanecer inerte por longos anos sendo alimentado por doses regulares de oxigênio, água e nutrientes. É natural que ele perca a habilidade mecânica que lhe é própria, visto que a manutenção desta pressupõe alguma repetição; da mesma forma, torna-se presente uma nova realidade à qual a extrema adaptabilidade deste corpo o faz sentir-se habituado.

 

Esta questão traz à luz do pensamento algo que poderia ser relacionado ao silêncio do corpo, um estado de presença no qual, apesar da vida conceitual estar presente, o corpo não mais funciona como um meio onde a transmissão de algum tipo de estimulo é possível; cessa a comunicação entre meio interno e externo e eventualmente este corpo estará isolado do resto do mundo.

 

Certamente este ser que aqui se faz em hipótese, confinado à inércia de seu próprio corpo, continuará sendo reconhecido como vivente, em forma corpórea e essência; contudo, o que coloca-se como questão é a efetiva troca de signos entre duas esferas particulares, a ação como pressuposto desencadeador da relação ação-reação e a quebra desta ordem quando uma das partes encontra-se em estado de inaptidão ao diálogo.

 

Desconsiderando a causa da mudez deste corpo, e assumindo o seu descolamento do mundo como inevitável, seria incoerente afirmar que algum tipo de ação é necessária para que um organismo seja percebido como um ser, e como tal possuidor das características estereotípicas que concedem a ele a condição humana? Dito isso, eu me pergunto ainda: Para além da ação produzida por ele mesmo, o que faz um indivíduo estar presente no mundo e ser reconhecido por seus contemporâneos como um exemplar de sua espécie?

 

Isaac Araujo

 

2. IDEIAS DE SIGNIFICADO EM DANÇA - O BALÉ

 

Dança, até a modernidade, esgotou a estética de sua linguagem. A narrativa da dança ocidental esteve subordinada à execução de padrões de movimento herdados da dança clássica europeia, em geral limitada a códigos que fazem referencia a imagens, situações e práticas cotidianas da Europa renascentista. A princípio o balé de corte, como era chamado, era utilizado como forma de interação social ou entretenimento, tendo incorporado posteriormente a noção de narrativa e mimese, o que contribuiu com o seu desenvolvimento até o formato de espetáculo que é reproduzido até a atualidade. Das cortes, onde era usualmente apreciado de cima dos camarotes nos salões reais, o balé ganhou os palcos dos teatros, o que requisitou dele um redimensionamento estético e narrativo, em função da nova perspectiva na qual ele passou a chegar aos olhos da plateia. Ao longo de três séculos a dança clássica foi continuamente reestruturada, até que no século XIX, com a fundação de grandes escolas de balé na Itália, França, Rússia e Inglaterra, o balé chega a um alto nível de destreza física e virtuosidade.

 

É inegável a eficiência técnica do treinamento em balé clássico. Seu mecanismo corporal contempla aspectos de força e flexibilidade muscular que, justamente por sua eficiência, justificam sua permanência enquanto prática em dança. No entanto, um fator a ser considerado é sua estreita abordagem temática, tendo em vista a complexidade da realidade contemporânea, com parâmetros de organização social distintos daqueles vividos até o século XIX.

 

Giselle, balé romântico estreado em Paris em 1840, apresenta a história de uma jovem camponesa que se apaixona por Albrecht, um nobre que está noivo de Bathilde, filha do Duque de Courland. Albrecht se encanta por Giselle e se disfarça de camponês para ir à festa da colheita da uva. Durante a festa Giselle tira a própria vida ao descobrir a verdade sobre Albrecht. O Lago dos Cisnes, balé romântico estreado em Moscou em 1877, conta a história de Odette, uma princesa transformada em cisne pelo mago Rothbart, e por quem se apaixona o príncipe Siegfried. Durante a festa de comemoração dos 21 anos do príncipe, Rothbart lança um feitiço que impede que Siegfried faça juras de amor eterno à Odette, o que quebraria o encanto do cisne. Desolados, Odette e Siegfried se lançam à morte.

 

CoppéliaLa Fille Mal Gardée e Paquita também são balés do repertório clássico, cujas narrativas, ressonantes à de Giselle e O Lago dos Cisnes, se localizam em um momento histórico anterior ao século XXI. No entanto, para além da discussão acerca da relevância da atualização de um discurso da dança clássica, está a contestação de um tipo de pensamento e arquitetura corporal comum ao balé; um lugar onde a decodificação dos signos pertence, sob o meu ponto de vista, a um universo linguístico de forma geral pouco acessível – desconsidero o uso da pantomima, que por ser uma linguagem gestual e de expressividade facial, transmite informação de maneira comumente inteligível.

 

Para possibilitar maior clareza de ideias, convém explanar um pouco do que foi firmado enquanto forma pela prática do balé, buscando pontos de tangência ou divergência entre esta e aquilo no qual se tornou a noção de forma para a dança vanguardista da atualidade:

 

O processo evolutivo das formas em dança se aproxima do individuo de maneira tal a ser compreendido por este enquanto linguagem, do mesmo modo que uma criança apreende um idioma ou mesmo aprende a dar nome a uma árvore ou a uma borboleta. Às formas são atribuídos significados através da associação de certos elementos a certas ideias; e aqui, como em outras áreas de especialização que pressupõem a apreensão de determinado vocabulário, é necessário haver o estudo direcionado a ela, objetivando a compreensão da relação entre os signos e seus significados dentro de um universo linguístico.

 

Existe uma infinidade de combinações de membros do corpo do bailarino que compõem figuras que eu chamo de “pequenas formas”, pequenas por estarem encerradas nos limites de um corpo. O balé eternizou certas combinações através da criação de algo que poderia ser chamado “o dicionário da dança clássica”: uma compilação de poses e seus respectivos nomes, além de uma descrição precisa de como elas devem ser abordadas e executadas. Eu considero bastante pertinente o livro “Princípios Básicos do Ballet Clássico”, escrito por Agrippina Vaganova, criadora da tradicional escola russa de balé. ArabesqueAttitudeÉcarté DevantDegagéQuarta Alongé, são exemplos das figuras estáticas que aqui chamo de “pequenas formas”.

 

Existem ainda inúmeras formas que implicam em uma trajetória através do espaço, são movimentos complexos que requerem deslocamento frontal e para cima, e que exigem a execução de poses em pleno decorrer do trajeto aéreo, como é o caso do grand pas-de-chat, do entrelacé e do saut-de-basque, para citar alguns.

 

Entretanto, para além das figuras estáticas e dinâmicas, em composições coreográficas busca-se obter grandes formações geometrizadas onde as formas carregadas por cada bailarino, bem como os deslocamentos horizontais, verticais, diagonais e circulares, representam instantes imagéticos dentro da completude composicional idealizada pelo coreógrafo. A estas macro composições eu chamo de “grandes formas” – aquilo que se apreende visualmente através da percepção da totalidade imagética da obra.

 

Mas o que efetivamente se entende nos dias de hoje da informação contida na visualidade das obras de balé clássico? Para mim esta questão está ligada ao nível de conhecimento da codificação do balé por aqueles que o assistem. Vale dizer que a narrativa apresentada pelos espetáculos são comumente repletas de elementos representantes da vida “real” e elementos oriundos de esferas fantasiosas, que como em qualquer outra narrativa é recebida e vivenciada pelo público de maneira pessoal. Mas no que toca especificamente a questão da linguagem formal do balé que é revisitada através dos corpos dos bailarinos, ou seja as sequencias coreográficas que permeiam as narrativas de espetáculos como O Quebra-NozesManon e Don Quixote é a virtuosidade encerrada em um corpo. Ela impressiona por ser uma habilidade física muito distante das possibilidades mecânicas funcionais e rotineiras do corpo humano. Além desta, os desenhos geométricos e suas evoluções também são informações visuais presentes em cena que facilmente são lidas e interpretadas pelo espectador, ganhando assim significado.

 

A questão que aqui problematizo é a atribuição de valor absoluto à esfera basicamente formal dentro do oficio da dança, tanto a nível corporal – de formas reproduzidas no corpo do bailarino; quanto a nível estrutural coreográfico – de padrões formados pela organização estática e dinâmica do bailarino na cena. Desta forma, contrário ao que seria o uso das pequenas e grandes formas enquanto ferramentas que viabilizam o transporte de uma ideia de significado ao mundo, concede-se à esfera formal do balé a noção de possuir um significado em si. E há de se afirmar com alguma razão que tal semântica não atinge apenas o público leigo ou instruído. Não é incomum encontrar bailarinos e coreógrafos que entendem o próprio fazer a nível basicamente estrutural, no que se refere ao transporte através dos tempos de noções de pequenas e grandes formas. Em outras palavras, no treinamento em dança clássica, é comum ensinar-se o mecanismo de execução das formas, o “como fazer” em detrimento do “porque fazer”. De maneira mais afirmativa, o como virou o porquê. Isso talvez explique o restrito olhar e consequente limitada compreensão de obras da dança clássica pelo público leigo, uma vez que esta assumiu um lugar no qual seu significado se encerra no hermetismo de sua própria linguagem.

 

De forma que ao agrado dos amantes da dança em geral, fazedores ou não, não parece bastar a experiência do prazer estético-visual; é patente a necessidade de uma visão mais abrangente acerca da acessibilidade à compreensão de linguagens pouco popularizadas. Convém levantar a questão da relevância da reprodução de obras que atualizam um pensamento racional do fazer artístico que é estruturado sob a égide de “linguagens puras”, e cujo conhecimento é limitado a pequenos núcleos de indivíduos.

 

Isaac Araujo

3. IDEIAS DE SIGNIFICADO EM DANÇA – A DANÇA CONTEMPORÂNEA

 

A dança contemporânea emerge da necessidade individual por lampejos de sabedoria e a localização de parâmetros entre o ser humano e sua interação com o mundo e com os agrupamentos sociais. Apesar de não representar uma linguagem específica do fazer em dança, ela carrega noções de estética e estilo. A dança contemporânea também carrega o ímpeto em desarticular um tipo de pensamento pragmático e objetivo, e partindo de um novo lugar, onde as bases craqueladas do conhecimento são infladas, abrindo espaço a novas perspectivas para o estar no mundo, as impressões particulares de um corpo se tornam ferramenta na construção de narrativas, e o próprio corpo se faz meio de transporte e transmutação de experiências cotidianas em informação sensorial e subjetiva, através de um viés de expressão que parte do corpo para chegar ao corpo.

 

O artista contemporâneo problematiza as relações sistêmicas dentro de contextos socioculturais, ele questiona a maneira na qual o homem se faz presente dentro do sistema de relações humanas e sugere perspectivas para se pensar ou sentir a sua própria inserção no mundo; ele o faz através de seu olhar singular.

 

Na tentativa de revisitar a relação entre signos e significados, a artista contemporâneo inventa novas ferramentas e se apropria delas na busca por transfigurar o lugar comum ou aquilo que se estabeleceu enquanto retórica dentro de universos linguísticos. Sua função é reinterpretar o mundo, rearranjando palavras e localizando-as no espaço-tempo presente. O artista contemporâneo é a entidade que age no espaço através do tempo como um padeiro que conhece a farinha, o sal, o fermento, água, a temperatura ideal, e pelos seus olhos, mãos, escolhe a mistura adequada à sua obra.

 

Mas o que é forma? Vista de maneira mais larga, contraposta ao referencial específico de pequenas e grandes formas dentro da estética do balé clássico, forma para mim é a expressão exterior de universos interiores, que é singular a cada indivíduo. Forma também é para mim aquilo que delineia um limite físico entre o corpo e o espaço-tempo no qual este está inserido. Em processos de criação em dança contemporânea, busca-se chegar à forma através de processos que partem da necessidade ou ímpeto expressivo do corpo do artista criador/cocriador; cria-se uma situação na qual a forma é convidada a emergir do corpo, para tanto utiliza-se ferramentas como ideias ou cenários concretos, imagens abstratas, sensações e emoções, para citar algumas. Em geral o material inicial que é obtido no primeiro estágio de criação coreográfica (brainstorming), representa a “matéria-prima” que passará por processos de manipulação até ganhar o formato de espetáculo ou work-in-progress que detenha o composto de ideias intencionado pelo artista criador, e que sob sua perspectiva representa a relação de forma, significado e abstração que mais se aproxima de sua idealização ou inspiração no momento da criação.

 

Isaac Araujo


Übersetzung des Textes "Ideias de Significado em Danca - A Danca Contemporanea" - geändert und neu gestaltet im Jahr 2023.

4. ZEITGENÖSSISCHER TANZ

 

Der zeitgenössische Tanz entsteht aus dem individuellen Bedürfnis nach Momente der Weisheit und der Verortung von Parametern zwischen dem Menschen und seiner Interaktion mit der Welt und mit sozialen Gruppierungen. Obwohl er keine spezifische Sprache des Tanzes darstellt, trägt er Ideen von Ästhetik und Stil, die zu den Sprachen des Tanzes gehören.

 

Der zeitgenössische Tanz trägt auch den Impuls, eine pragmatische und objektive Art des Denkens aufzubrechen und von einem neuen Ort auszugehen, an dem brüchige Wissensgrundlagen aufgebläht und Raum für neue Perspektiven auf das Dasein in der Welt eröffnet werden können. Die besonderen Eindrücke eines Körpers werden zu einem Werkzeug in der Konstruktion von Erzählungen, und der Körper selbst wird zu einem Mittel des Transports und der Umwandlung alltäglicher Erfahrungen in sensorische und subjektive Informationen - durch eine Ausdrucksform, die vom Körper ausgeht und zum Körper kommt.

 

Der zeitgenössische Künstler hinterfragt die systemischen Beziehungen in soziokulturellen Kontexten. Er hinterfragt die Art und Weise, wie der Mensch sich im System der menschlichen Beziehungen vergegenwärtigt und schlägt Perspektiven vor, um seine eigene Einfügung in die Welt zu denken und zu fühlen. Er tut dies durch seinen einzigartigen Blick.

 

Mit dem Wunsch, die Beziehung zwischen Zeichen und Bedeutung neu zu definieren, erfindet der zeitgenössische Künstler neue Werkzeuge und eignet sie sich an, um das Alltägliche oder das, was sich als Rhetorik in den Sprachwelten etabliert hat, zu verformen. Seine Aufgabe ist es, die Welt neu zu interpretieren, indem er die Wörter neu anordnet und sie in dem gegenwärtigen Zeit-Raum verortet. Der zeitgenössische Künstler ist ein Wesen, das im Raum durch die Zeit agiert, wie ein Bäcker, der das Mehl, das Salz, die Hefe, das Wasser und die ideale Temperatur kennt, und mit seinen Augen, seinen Händen, die richtige Mischung für sein Werk findet. Er gibt dem Werk eine Form.

 

Und was ist Form? Im weiteren Sinne ist die Form für mich der äußere Ausdruck eines inneren Universums, das bei jedem Menschen einzigartig ist. Im kreativen Prozess des zeitgenössischen Tanzes geht es darum, die Form durch Prozesse zu erreichen, die vom Ausdrucksimpuls des Körpers des kreativen Künstlers ausgehen. Es wird eine Situation geschaffen, in der die Form eingeladen ist, aus dem Körper herauszutreten. Dazu verwendet er Werkzeuge wie konkrete Ideen, Bilder, Abstraktionen, Empfindungen und Emotionen.

 

Im Allgemeinen durchläuft das Ausgangsmaterial Bearbeitungsprozesse, bis es eine Form erreicht, die die vom Künstler beabsichtigte Kombination von Ideen enthält und die aus seiner Sicht das Verhältnis von Form, Bedeutung und Abstraktion darstellt, das seiner Idealvorstellung im Moment der Schöpfung am nächsten kommt.

 

Isaac Araujo


5. AYAHUASCA CEREMONY

 

 

In January 2014 I spent two weeks in Alto Paraíso, a small town 300km north of Brasilia. They say this place possesses spiritual power, and because it lies on a region full of crystals, it is naturally energized. I stayed at a local hostel and my everyday task, together with a group of people I met, was to take a trail to another waterfall.

             

On my last two days in Paradise, the cosmos brought me one of the most remarkable experiences I've ever had. I went to a ceremony where I had the opportunity to drink Ayahuasca among friends and a loving team of “angels”, who lead the ceremony. It was Saturday and after having breakfast at the organic market we went to get bathed in a waterfall. On that day, though, it had a special meaning: we should get ourselves purified by Iemanjá, the water deity. This was part of the ritual, to spiritually prepare ourselves for the night, which included eating vegan meals. The afternoon was very quiet and peaceful, everyone seemed to be isolated on their own thoughts, on a sort of meditative state of mind.

             

The night came and we went to the Kuan-Yin House, where the ceremony was about to get started. Firstly, we had a reiki session and a gathering around the fireplace, where the master explained the procedure and answered our questions about the power-plant. We went to the main room and got our seats as the team started with their chanting, which was meant to send bad spirits away. Done that, our hostess locked the doors, commended that the house should be protected by the spirits of light during the work and announced the ceremony was about to get started.

             

The drink was served. It had a very strong taste, I can't find a word to describe it more precisely. After 5 minutes I clearly knew my body started to react. I had my eyes closed and I could feel the top of my head, I suppose it was my pineal gland in action. I saw light pouring down my head and moments later I saw geometric patterns in all color spectrum of the rainbow. I was in a 3-dimentional room fully covered by these patterns, and the amazing thing is that the whole picture was in motion, alive, and I was not the observer, I was part of the picture – the Force was welcoming me inside itself.

             

That was just the first cycle of coming-and-going of different phases. Each time the cycle hits back, it has a totality different aspect, which increases in power and depth; at some point it hits the summit and starts decreasing, until it completely stops.

             

Ayahuasca is said to be a healing process. I do believe it should be practiced as such. The practice should honor the plant, its source – mother nature – and its power. This power should not be called upon on an unprotected environment and for whatever purposes other than healing. It is a powerful tool that cracks the matrix of the physical reality we live in and shows nature from its inside. It also involves oneself in a very personal experience, because it brings to the surface what belongs to one's own healing process.

             

At some point I experienced excitement, I stood up and danced. I also experienced a fear of not being able to stop the cycles; at which point I had to lie down on a mattress, and I remember I had someone helping me. During the whole process I experienced the sensation of having a physical body much differently than I normally do. Sometimes I would disconnect completely from my body and be primarily focused on mental/psychic activity/experience, having all sorts of visions. Other times I would be super aware of my body, sensing every single body part, and I perceived the sensation of pain coming from my stomach.

             

After a couple of hours the cycles were gone, it was time to have the second dose of the drink. I then decided not to have it – I had already had access to way more information than I was at that moment able to digest, let alone integrate into my system, so I needed to stop there. I sat by the fire place and spent the following couple of hours looking at the wood burning – the flames coming out. l also observed the others as they went through the second round, their healing process and how it is different from person to person. I witnessed that happening and realized how humane it was.

             

On the next day I had to drive back to Brasilia. The coming-back to the metropolis after this profound experience would slowly show me some “facts”. Hopping on a city bus was a shocking experience; indeed, I felt as if I had landed my spaceship on a planet full of aliens, and that it was not home to me. I looked at people; there was a gap between what a saw and what I believed/felt it was supposed to be. I guess I could perceive more clearly that people live their lives on a sort of mechanical way (automaton), as if they were hypnotized. I perceived a bigger picture, where this happening was being played; it seemed to me it was a trap, from which one could not scape and could only become aware of.

 

This experience changed the way I see the world around me. It changed my attitude towards what I can grasp with my senses and reason. I still learn day by day, through my observations, to gather an understanding of the world, to put it into perspective and find balance between physical and psychic reality. Of course my search didn't stop after the ceremony, it was actually the start, the opening of Pandora's box. I had a small sample of how far the human beings’ psyche can reach; it made me realize how narrow-minded humans can be.

 

I'm grateful for this experience and I'm happy to share it with you.                                                

             

Peace and Love

 

Isaac Araujo

 


6. MAYA, THE ILLUSION OF THE SELF

 

I was wondering whether an ultimate truth about life exists, in which there would be concrete directives towards living a fulfilled life. About the ultimate truth I would say: Follow your heart! However, this statement has neither a concrete meaning, nor leads one through a concrete path, even though it is absolutely the most important thing one can do.

 

Then I come to my next question: Is it the soul that seeks fulfillment or is it the embodied soul that longs for it? Is it people’s cultural heritage, a process of mental colonization, social imprint, or is it the embodies soul? I guess it is difficult to find a concrete answer to the dilemma of existing in a human body, yet there are countless pathways that give people the support they need to be able to deal with it, and with the difficulties that emerge throughout the path.

             

There are many pathways to be chosen. Pick what you like from the far west to the east, and if you don't find there any method that appeals to you, you can always put them all in a mixer and make your own recipe for a well lived life.

             

But what is that we are trying to solve when we start meditating, practicing yoga, reiki, qi gong, somatic movement therapy, gestalt, BMC®, family constellation, transpersonal psychotherapy, authentic movement, dancing, painting, sculpting, making music, and many other tools, methods, schools and other ways we have at our disposal? I suppose an answer for this question is: At some point in our lives we miss a sense of self we know we have; we start feeling uncomfortable in our own bodies, which triggers a sensation of instability, which in turn calls upon balance. This happens when we find ourselves too distracted and far from our soul, and we miss its presence. It can also happen when a person is confronted with deep sorrow due to an accident, illness, loss of family member or a separation; these situations are also triggers for the inner call for spiritual help.

 

Back to the roots! I think nature invites us all the time – for example when we feel the fresh wind passing by, when we notice that the tree next to our house has grown new flowers, when we go in the woods and we suddenly feel nice and peaceful. Noticing the outside world comes from the inner world, when it is speaking. Everything we grasp with our senses is a projection of our inner state of body-mind-spirit. In fact, the whole point of a spiritual path is to support us in our path of recognition of our true-nature, of reconnection with the essence, with the nature within ourselves.

 

Now I would like to ask you 2 questions: What is your name? What do you do? What would it be like if you had a different name? Born into an other culture, another family, gone to another school, had other friends and a different profession. I imagine that your references would be different, perhaps your thoughts would have a different tone, and your attitudes, how you act in the world, towards human relationships. However, that which underlies these parameters would remain the same, that is, your sense of identification with your persona.

 

Maya is a place, but I'm not sure if it is reality; people certainly take it to be so. Maya is sustained by our identity, the one we struggle so hard to form once we leave childhood and enter adulthood. A feeling of not-self arises, which underlies Maya. We have been disconnected from our own source of energy, from genuine love. We are born into a non-reality. The constant stimulation through the human senses keeps us tied to Maya and feeds our sense of identification with Maya, which ultimately veils the memory of our soul’s true nature. Duality is born, as well as suffering.

             

Well, don't panic! Now comes the good part: Even though our soul is eternal and comes from elsewhere, we are here living an embodied life, born on physical reality, and it is, as far as my senses can tell, in a way, real. We just got lost a bit on the way...

 

Here I go back to the beginning of my text, to the part I wonder whether a set of directives for a fulfilled life exists. I believe there are no concrete answers, but there are some pretty concrete pathways. I like Buddhism, for example, it supports me on dealing with my own mind, with my emotions specially. I also like systemic constellations, it gives me the opportunity to go into the depths of my psyche, also searching for my own artistic expression, which brings me face to face with my fears and with my most beautiful moments of enchantment with life.

             

Spiritual guidance is there to help us, but I suggest you not to overuse any of these tools. We can also count on our own intuition, it is an inner genitor we all have, that knows ourselves better than anyone or any spiritual path. We can trust the voice that comes from the inside, from the heart. The hard part, though, is that we need to unveil Maya first. :)

 

Peace and Love

 

Isaac Araujo


7. DEVANEIOS PRIMAVERIS

 

O mundo está em movimento. Todas as nossas ações reverberam no cosmos. Ele responde a elas. Negativa ou positivamente, de forma imparcial. A estabilidade é uma ilusão de estaticidade. A verdade é que a estabilidade também é movimento – está em movimento.

 

Pessoas sofrem a influencia de uma corrente de energias que as envolvem a todo instante e as impulsiona de um lado para o outro, mantendo assim o movimento próprio da vida.

 

Minha relação comigo mesmo: Eu percebo com certa clareza os meus momentos e quais são as influencias momentâneas – sob que egrégora de energia meus pensamentos e impulsos de atitude se expandem no espaço-tempo. Eu transpareço a mim mesmo meus fluxos.

 

Um amigo meu um dia me atinou para a questão do movimento energético universal ser diretamente influenciado e influenciar as ações individuais.

 

Quando eu realizado algo, concretizo uma ação qualquer, dou conta de um projeto até o seu fim, isso também me dá uma sensação de movimento.

 

Acontece que é comum, por medo talvez, a pessoa optar pelo cômodo, pelo seguro. Pode ser que este seja um lugar comum de reprodução de ações rotineiras, aquelas ações que se tornaram parte integrante da rotina diária de um indivíduo, e que ele reproduz espontaneamente. Mas aí está uma estaticidade produzida pelo indivíduo. Ela tem uma consequência: a morbidez. Ela resulta metaforicamente na água parada onde podem ser encontrados dejetos de moscas. O frescor do novo, que o estar-em-movimento proporciona, se perde.

 

Sobre aulas particulares de dança com uma aluna de aproximadamente 15 anos:

Comecei com um plano A, que não funcionou. Já o plano B funcionou, mas só por algumas semanas; então ele estacionou, e a aluno reclamou. Ponderando a este respeito, penso que as calotas de uma relação professor-aluno-material abordado-forma de abordagem passam inevitavelmente por um processo de descolamento e reorganização, para então poder seguir, até o momento em que a relação alcance mais uma fase de dureza e estaticidade, e demande mais um momento de movimento e reorganização das calotas.  

 

Tendo a vida de um indivíduo como base de análise, penso que o movimento deve ser constante. Ele é constante, visto que o mundo oferece às pessoas oportunidades de trocas diversas a cada ciclo (ciclos esses que, em meu próprio comportamento, são claramente perceptíveis a mim). Se tal movimento chega ao cômodo do estático e lá o indivíduo fica, e não ouve o chamado universal de trocas energéticas (que possibilita a renovação da vida), o ser se torna moribundo e morre.

 

Hoje à noite irei iniciar uma nova onde de trocas em minha vida. No Halle TanzFest. O cosmos o colocou no meu caminho. São energias novas que podem modificar por completo minha troca com o mundo das coisas, reorganizar minhas calotas cósmicas e me emprestar nova vida. Renascer! Eu tenho livre arbítrio, posso tapar meus ouvidos para o chamado cósmico, e não receber as energias a mim intencionadas. Se a rejeição desse chamado se torna habitual, a vida entra em certo estado de atropelo que eventualmente diminui a força do ser, a sua alegria de viver, e aos poucos chega a níveis baixíssimos de movimento até que ele morre para a beleza da vida. O universo nos ama, por isso ele cuida para que nosso movimento energético não estacione.     

 

Existe também a questão da contenção energética. Uma pessoa com muita energia deve dar vazão a ela. Caso contrário, a energia fica bloqueada no organismo e é possível haver malefícios desde corporais até mentais e talvez espirituais.

 

O respirar é a ventilação de um processo energético, é o motor da máquina humana. Ele renova as possibilidades de funcionamento do corpo a cada inspiração e expiração.

 

Bebês também são poços energéticos em potencial. Ao nascerem, os bebes são acolhidos em planos vibracionais de tempo elástico, onde o metabolismo energético é constante, nunca estático. Bebês recebem estímulos energéticos do meio onde vivem e reagem a eles, consciente e inconscientemente.

 

Uma mãe segura um bebê recém nascido em seu peito e abdômen. Eu vejo uma vida, um ser por inteiro, íntegro, um poço de energia e potencial de troca; promessa de troca que pode ser abortada por sua morte súbita. Mas a vida persiste viva, e os processos da vida são como um rio que corre sem fronteira à sua frente.

 

Como é a consciência de um bebê?

Os bebês vivem em constante estado de meditação. Por vezes o mundo físico os chama a atenção, e por serem arrancados de seus estados meditativos, eles choram.

 

Conforme vivemos, a cada momento aprendemos a saber o mundo físico. Nossa percepção antes meditativa, torna-se setorial; ganha aos poucos forma (caminhos de impulsos cerebrais) – isso talvez seja o chamado conhecimento (que é diferente de sabedoria). Na mente, imagens são formadas – uma combinação de informação acerca de cada centímetro do mundo físico tridimensional. São dados salvos no córtex humano (“the human brain”). A vida se transforma em permutação de absorvida informação. Lidamos então com o mundo estático; o mundo está representado no córtex e as calotas enrijeceram.

 

A vida. A caminhada da vida ordinária humana é um constante esforço (e desejo) de refinar a nossa percepção do mundo físico, que gira, dinâmico.

 

Isaac Araujo

Halle (Saale), 2016