POETRY
I’m here. Middle. Evolving. Slow.
No superpower. Me.
Leipzig 2020
É preciso ir buscar a
chave, voltar na casa
e pegar meus óculos.
Eu os esqueci lá, e lá eles
permanecem trancados.
Você quer libertar-se?
Leipzig 29.04.2020
Riscar o papel. Botar os dedos no teclado. Aprender a escrita das notas musicais. A letra é fina, poder ser borrada. Uma crise sobre mim, aqui e agora. Escrever para me manter aqui e agora. Tenho problema na aula de Gehörbildung. A professora... parece-me que ela não gosta dela. Sou Isaac, um homem brasileiro; tenho 33 anos. É difícil caminhar. Sinto-me não sei... só. Estou em meio ao processo. Olhar dentro do mundo. Sou Cristo. O mundo me odeia. Eu era conhecido como homo. Hoje eu sei lá. Sou... o desejo, sexo. Caminhei e caminhei pelo mundo. E o mundo lá por onde passei também me odeia. Aqui e lá. Eu. O nós. Você e eu e nós. Achei que 2017... sorriso em meus lábios, eu mais leve e feliz; sem lágrimas. O seio do mundo é infinito.
Halle 2017
A taça está cheia de café. O tempo que transcorre paralelo, o café vai sendo bebido e eu escrevo. Pessoas que estudam a história da arte e a praticam fisicamente presentes. Preenchimento do espaço criado pelo ponteiro do relógio em seu deslocar.
Conversar sobre arte com alguém que está certo de que a arte é. Assim se fala, mas a porta não está aberta. O motivo por trás da proximidade dos polos.
ok, chega! Sobre mim e meu lugar agora, talvez seja mais produtivo, ao menos para mim. Apesar de estar cansado, quero firmar aqui talvez mais um café. É preciso educar a resistência do meu resistir.
Fevereiro, me disseram para não ter pressa. Qual é o tempo? Não há de ser fixo. Seres humanos. A vida é real! Agora estou respirando o ar que a garota empurra em minha direção.
Música alta no café do Burg. São 4 informações secas.
Tenho desejo e ele cresce a cada dia. Desejo pelo outro.
A resto da sexta-feira eu me dei de presente.
O dia não está feio.
Cantar é minha paixão.
O mundo ao meu redor. Às vezes sinto vontade de extravasar meus olhos de água; e penso que o tempo trará respostas – como se uma resposta fosse o fim da espera que hoje, antes da resposta vir, parece eterna.
As pessoas são lindas e diversas. Já falei sobre provar o mundo com os olhos, e agora também com os dedos. Uma sensação que me volta ao corpo sempre que penso em como eu senti cada detalhe do mundo que eu já conheci.
Qual é a minha turma? Minhas águas devem estar correndo em sua direção. Mas me sinto ainda assim invisível. Fremd. Estar invisível deve ter a ver com conhecer algo ou não.
As pessoas ao meu redor, o que sabem elas que eu não sei? Ou o que eu não sei sobre essas pessoas que elas também não sabem de si?
Observar. Olhar. Sei que não é meu. Não pode ser. Não é mesmo de ninguém.
Passar por aqui, olhar, sabê-lo, trocar. Você me mostra o que eu preciso saber de mim, e eu carrego o espelho para onde você pode olhar.
Só tem uma direção que se esfacela em todas as outras milhares. A lotus.
Olhar esses olhos e não temê-los.
Estar agora de frente àquele cavalo selvagem.
Halle 3.11.2017
Um caderno novo para uma vida nova.
O lápis também é novo, a borracha e o apontador.
O caderno é grande; vai caber nele a lembrança de muitos momentos,
as sensações e como as penso, no instante que as penso.
Escrever à lápis é gostoso; flui; como nadar em água gelada ou comer Hanuta.
O grafite também combina com o bege claro do papel reciclado - acho que é.
A princípio achei que seriam desenhos, mas para eles às vezes não me dou.
Com as palavras é diferente, hoje ao menos; talvez aprendi a gostar delas.
Mas também elas viram desenho no papel. Também isso a gente escolhe
para nos representar no mundo.
Acho que um pouco das coisas basta.
Na verdade não é para matar a fome,
é para renovar a vida. A cada dia que
aqui ela estiver. Ela também já se vai,
para também já voltar.
Halle 17.04.2016
Halle 2016
MY LOVE
My love,
I need you, your body,
Your sex, gently
Through my senses.
Shall I keep you,
Well of fresh water,
I could dry up entirely.
I would also wither.
My body will find new relief,
For it is flesh, eatable;
Circular flow of energy
From mouth to rim.
As for my love,
Warm and seductive,
Can save me from being;
Then I hold it, gently.
Inner merge into the outer,
Being one around the skin,
My mind becomes subtle.
I can feel it quiet.
For it is mine,
A stream, flowing water,
Love remains.
Need also;
The taste of your manhood,
Me, eating you.
Isaac Araujo
Berlin, 2015
SENTIMENTO
Sentimento é igualdade
Não se nega, não tem idade
Vem num repente, vem pianinho
Chega bem escondidinho
O valente se entrega, a mocinha cora
O poeta escreve, a criança chora
Sentimento é pra muitos quase uma doença
Combustível pr’alguns de sua existência
Há, no entanto, e digo de fato
Pessoas que evitam o mais ínfimo contato
Por medo eu diria, ou coisa que o valha
Sei mesmo de mim, ele é quase uma navalha
Espanta-me, contudo, o cruel destino
Daqueles que o evitam, se afastam, se esguiam
Sentimento é o meu sangue que ferve quase evapora
Quando vejo aqueles olhos florescerem na aurora
Vida minha, eu lhe peço, não me deixe adormecer
À noite sem um pouquinho naqueles olhos me perder
Sentimento, há quem diga
Vai e volta toda vida
Mas amor, deveras loucura
Não se jura, não se cura
Sentimento é coisa à-toa, ou a vida por excelência
Busca eterna de sentido para a minha, a sua existência.
2007
POEMAZINHO MEU
Conversa vai
Sua fala é segura
Por vezes ligeiro dura
Conversa vem
Entre vírgulas
Vejo pela fresta
Um coração em alerta
Cheio de querer bem
Ambiguidade, paradoxo?
Que seja!
Sem você, a vida
Com certeza
Da pobreza à realeza
Não teria beleza.
2006
OUTRO POEMAZINHO DE AMOR
Vontade louca é a de cruzar com seus olhinhos
Safiras que brilham ao sol, caem com a chuva
Num instante parecem perfeitos
Zelosa escultura divina;
Se fosse pedra, seria preciosa
De Vinícius, se fosse prosa;
Queria eu numa tarde ensolarada
Encontrá-los de bobeira
E sem o fardo dos ponteiros
Admirá-los a noite inteira;
Consola-me o fato
Que o tempo é Deus, sábio
Que sabe se um dia
De certo abençoado
Trará consigo esses olhinhos
Cheios de amor, cheios de carinho.
2006
AINDA HOJE
Nos despedimos há pouco
Estou morrendo de saudades
O gosto do seu beijo
Construindo mil imagens
Seu cheiro no meu corpo
A derreter meus pensamentos
E a lembrança do seu toque
São tão bons estes momentos.
2006
POESIA SEM NOME
Fique de pé
Sacode a poeira
Ergue a cabeça
Estufe o peito
Não com despeito
Sim com respeito
Dê um sorriso
Não de deboche
Nem de deleite
À própria miséria
Mas de dignidade
E perseverança
Que no fim desta dança
Ainda há de haver tempo
De dizer-te bem alto
Isto que agora
Me move por dentro.
2007
SEU AMOR
E se eu quisesse cuidar do seu amor?
Cuidaria como que de um tesouro.
E se eu não pudesse?
Morreria, inválido.
2007
CAÍDO DO CÉU
Outro dia ao acordar, percebi que durante as horas que eu havia dormido, eu havia estado em um lugar que, apesar de desconhecido, causava-me uma sensação inexplicável de inteireza. Como se naquele momento nada mais me faltasse.
Este lugar, lembro-me, pareceu-me acolhedor. Senti-me total seguro. E era como se ali o mundo tivesse parado de girar, e a primavera reinasse eterna, só ali naquele lugar, com o seu fascínio de cores e seus aromas embriagantes.
Depois de um certo tempo, ainda tomado por deslumbre, imaginei que lá habitasse uma pessoa. E guiado por um perfume refrescante, entrei num quarto, onde encontrei uma janela aberta, que permitia que os raios luminosos de fim de tarde inundassem todo o ambiente.
Então me dei conta que haviam pétalas de rosas espalhadas pelo chão, sobre os móveis, algumas até flutuavam, deslizavam no ar sem pretensão, como se alheias à gravidade. Elas eram rosas incomuns, que não são vendidas em lojas e nem são encontradas facilmente pelos campos. Eram de proporções tais que provavelmente seguiam alguma teoria do perfeito.
Perguntei-me quem habitava aquela casa.
Deitado ali num lençol vermelho ele dormia.
Olhando sua face serena, eu não soube dizer se era menino ou crescido, mas entendi, pelo brilho à sua volta que havia caído do céu.
Aí acordei.
2007
SUPER-HERÓI
Sentado. À minha volta papel, tesoura e cola. Vou dobrando um papelzinho e outro e ao juntar as pequeninas partes, nasce uma estrela.
Vejo-nos como pedacinhos de um todo. Eles se cruzam pelo caminho e se encaixam, se completam.
Saudoso estou a pensar em ti.
Ao te encontrar volto a ser criança, de não saber o que dizer, de me esquecer do tempo, de desejar que ele não passe, de querer ser um super-herói para te levar até as estrelas e lá, acima das nuvens, onde o sol brilha sem fim, beijar-te.
Beijar-te e adormecer em teus braços. Como se nada mais importasse. Nada mais importaria.
2007